A lenda da tomada do castelo aos Mouros, como foi contada por João António de Saldanha Oliveira e Sousa (1901-1972), que assinava como "Marquês de Rio Maior", sendo o terceiro detentor desse título. Da narrativa integral que pode ser lida no rodapé (PDF), apresentamos um resumo em poucas linhas:
O último senhor mouro do castelo de Alfeizerão, o Emir Aben-Hassan, tinha uma filha de nome Zaira que era uma jovem de grande beleza e a quem todos conheciam como a "Flor de Alfeizerão". Zaira tinha sido criada como uma filha pela escrava Axa, que uma noite tem dois sonhos distintos e angustiantes em que intervinha a linda Axa. Recorrendo a escrava a um adivinho para os compreender, as suas explicações anunciam dois destinos diferentes para a sua filha de coração, ou o castelo resistia ao assalto dos cristãos e Zaira era morta por aqueles guerreiros por ali se encontrar de vigia às muralhas ou o castelo sucumbiria às armas dos cavaleiros cristãos sem que Zaira sofresse qualquer dano com o choque das armas. O coração de Axa escolhe a vida para a sua Zaira, mesmo que isso significasse a derrota e a subjugação do seu povo. Mas a fatalidade ensombrava o destino de Zaira, porque ao assaltarem os cristãos o castelo e tomando-o com grande rapidez e violência, o emir Aben-Hassan sobe com a filha à torre mais alta do castelo, e surpreendendo a dimensão da derrota e do sofrimento do seu povo e temendo que Zaira caísse nas mãos dos inimigos, abraça-a e precipitam-se ambos para o abismo. O castelo ficou em poder dos cristãos, mas nesse lugar permanecem segundo as crenças, dois fantasmas do tempo dos mouros cujas vozes ecoam nas suas fundações, o da escrava Axa que pranteia a sua bela menina a quem perdera na ânsia de a ver salva e intacta e o de um jovem mouro, enamorado da jovem, que adormecera a sonhar com os seus olhos cor de oliva, descurando a vigia das muralhas, aproveitada pelos cristãos para a escalarem sem aviso para conquistarem de surpresa a fortaleza do emir Aben-Hassan.
«É lenda corrente na povoação que o nome de Alfeizerão lhe provém de que, tendo os Árabes maltratado e roubado os habitantes do lugar do Casal, estes se queixaram a El-Rei D. Afonso Henriques, que então se encontrava em Alcobaça, dando-lhes o rei em resposta o seguinte: “Ide-vos em paz, que os Mouros a alfange irão!».
(CARVALHAES, José, "Antiguidades romanas de Alfazeirão", in O Archeologo Português, Vol. VIII, n.º 4, p. 93, Lisboa, Imprensa Nacional, 1903)
Nesse tempo, ainda não havia luz eléctrica em Alfeizerão, como em geral no concelho de Alcobaça.
A iluminação pública era feita com candeeiros a petróleo, grandes e bonitos, colocados nas esquinas. Nesse aspecto, o País estava muito atrasado e o Concelho não era uma excepção gritante, não obstante na sede do concelho a luz eléctrica ter sido inaugurada em 1905, aliás, no mesmo ano que Barcelos, como nos recordou um nosso parente de Nine [Barcelos].
O “Camafego”, avô de Manuel Vizoso, que foi Presidente da Junta há alguns anos, era quem todos os dias ia junto de cada candeeiro, com uma escada e com uma medida, deitar a quantidade necessária de petróleo para satisfazer as necessidades de uma noite. Aceso um candeeiro, o Camafego passava ao seguinte.
A determinada altura, por pura malandrice, alguém arranjou um molho de papel enrolado com uns cordões e com uma ponta a fingir ser um fio de detonador, que dependurou num candeeiro. Quando o Camafego subiu ao candeeiro e ao ver aquilo que tinha todo o aspecto de uma bomba, desceu prontamente e comentou em voz alta: “Quem te pôs aí que te acenda!”.
Nessa noite não houve iluminação pública em Alfeizerão.
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