Igreja Paroquial de Alfeizerão

Templo de planta rectangular regular com a fachada principal orientada a nascente com a entrada aberta por porta de ombreiras e lintel de pedra à qual se acede por escadaria. O frontispício exibe dois panos e três registos, e uma torre sineira no ângulo nordeste. No interior destaca-se o altar-mor sobrelevado do nível da nave principal e o coro alto de madeira acima da entrada, no seu acervo conta-se uma pia baptismal em pedra de formato hexagonal com o motivo encordoado que era uma das características da arte do período manuelino e diferentes imagens religiosas, entre as quais, uma Virgem com o Menino e um Arcanjo de S. Miguel dos séculos XIV a XVI, exumadas durante obras efectuadas na igreja no século XX. O orago da igreja é S. João Baptista.

A cronologia do templo é difícil de precisar, um primeiro templo, denominado "capela" nos documentos do cartório do Mosteiro de Alcobaça existia já aí nos séculos XIII-XIV, designação que lhe era devida por ter um capelão perpétuo à frente dos seus destinos; em 1405, por uma referência documental de Iria Gonçalves (1), sabemos de uma compensação dada pelo Mosteiro por umas pedras que tomara para construir o alpendre da igreja de Alfeizerão, podendo ser esse o período cronológico de construção da igreja matriz propriamente dita; em 1517 o Abade D. Jorge de Melo nomeia o padre António Vieira como vigário das igrejas de Alfeizerão e S. Martinho do Porto, ele que antes servira aí como capelão e em 1425 é nomeado o padre Domingos Vicente como clérigo de missa nas duas igrejas (2). Sabemos pouco sobre essa igreja pretérita, mas uma data inscrita numa pedra do interior da igreja (1633) poderá assinalar alguma obra de reconstrução ou ampliação do templo original, renovação ou melhoria coerente com a doação feita no ano de 1634 pelo Mosteiro à Confraria do Santíssimo Sacramento de Alfeizerão de uma terra junto ao Castelo da vila para prover as suas necessidades(2).
Em finais do século XVII, a igreja encontrava-se muito arruinada, em 1719, numa justificação feita pelo Mosteiro declara-se que se havia feito de novo as paredes da igreja com o dinheiro que sobejara das sisas, mas que haviam desbaratado as madeiras e as telhas destinadas à sua reconstrução (2). A decadência da igreja acentua-se e torna-se crítica com o sismo de 1755. Por decisão régia, é exigido ao Mosteiro de Alcobaça que custeie a sua reedificação (3), obra que se prolonga por cerca de dois anos, de 1762 a 1764, e que confere à igreja a sua fachada contemporânea, a igreja terá sido reconstruída desde a base da implantação e do templo anterior não terá persistido quase nada. Outras obras de reparação ou melhoria da igreja ou do seu telhado serão executadas em diferentes períodos, nomeadamente em meados e em finais do século XIX e na década de sessenta do século XX. A torre sineira da igreja, no entanto, não foi erguida durante a campanha de obras do século XVIII, mas acrescentada ao templo na primeira década do século XX, entre o princípio do ano de 1905 e Junho do ano seguinte, com fundos provenientes de donativos dos fiéis, solicitados pelo pároco de então, o padre Manuel Rodrigues (4).

(1) GONÇALVES, Iria (1989) - O Património do Mosteiro de Alcobaça nos Séculos XIV e XV, p. 256, Lisboa: Universidade Nova de Lisboa
(2) ANTT, Ordem de Cister, Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, liv. 92, f. 105r-106v - "Livro de Privilégios, Jurisdições, Sentenças, Igrejas deste real mosteiro de Santa Maria de Alcobaça"
(3) ANTT, Ordem de Cister, Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, liv. 60, f. 526r
(4) Comprova-o um "Memorandum" escrito pelo punho do próprio sacerdote na abertura de um dos livros de registos da paróquia: ADLRA, IV/44/E/60, freguesia de Alfeizerão, Registo de batismos, livro n.º 31, 1905-1905